Poema


Do Japão 

O poeta Gilberto Gil mostra aqui uma visão romântica da tecnologia. 
 
Do Japão quero uma câmera de filmar sonhos pra registrar nas noites de verão meu corpo astral, leve, feliz, risonho voando alto como um gavião;
Que filme dentro da minha cabeça todo pensamento raro que eu mereça, toda ilusão a cores que apareça, toda beleza de sonhar em vão.
Do Japão quero também um trem-bala de coco pra atravessar túneis do dissabor; Quero um microcomputador barroco que seja louco e desprograme a dor; visitar um templo zen-disbundista, conversar com um samurai futurista que me dê pistas sobre o sol-nascente, que me oriente sobre o novo amor.
Do Japão quero uma gueixa que em poucos minutos da minha queixa faça uma paixão, descubra novos sentimentos brutos e enfeitiçada tome um avião e a gente vá viver num outro mundo, pra lá do terceiro ou quarto ou quinto mundo, onde a rainha seja uma açucena e a divindade a pena do pavão. 

Fonte 
Gilberto Gil. "Do Japão" In: Gil, Gilberto. O eteno Deus. Mudança. São Paulo: WEA, 1989.